Celular para criança deve ser exceção, alerta campanha do MPPA

Quando crianças, principalmente de 0 a 2 anos, ficam durante muitas horas utilizando passivamente aparelhos eletrônicos e recebendo excessivas informações, os estímulos necessários em seus cérebros para desenvolver as habilidades cognitivas de raciocinar, memorizar, planejar e sequenciar são prejudicados significativamente. As consequências mais imediatas são as dificuldades de sustentar a atenção e o atraso na linguagem.
Quem alerta sobre o problema é a neuropsicóloga Karina Medrado, que foi uma das palestrantes do evento de abertura da campanha ‘’Nada Substitui a presença! Celular não é babá!’’, lançada nesta última sexta-fira (13) pela 1ª Promotoria de Justiça Cível e de Defesa Comunitária e da Cidadania de Icoaraci, cuja titular é a promotora de Justiça Darlene Rodrigues Moreira.
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Com o objetivo de alertar sobre o uso abusivo de dispositivos digitais, orientando os pais e responsáveis em geral sobre a necessidade de limites para esse uso, conforme a idade da criança e adolescente, a campanha surge em um contexto em que, segundo a promotora, inexistem alertas sobre as implicações que o uso demasiado de dispositivos digitais pode gerar à saúde física, mental e social da criança ou adolescente. ‘’Quem nunca viu pais/responsáveis utilizando um tablet ou celular para acalmar e/ou distrair seu filho?’’, questionou a promotora.

O evento de abertura da campanha reuniu coordenadores escolares, professores e pais de alunos de diversas escolas de Icoaraci e Outeiro no auditório da Promotoria de Justiça de Icoaraci. Os participantes receberam os primeiros materiais da campanha, conheceram os objetivos e futuras ações do projeto e trocaram informações com a palestra Perigo: criança, adolescente e celular – os impactos do uso de eletrônicos na cognição e no comportamento, ministrada pela neuropsicóloga Karina Medrado, qualificada em ABA (Applied Behavior Analysis).

Segunda a especialista, estudos científicos vêm apontando em consonância para grandes impactos na cognição quando crianças são expostas ao uso excessivo de aparelhos eletrônicos. Algumas pesquisas sugerem, de acordo com Karina, que futuramente essas crianças possam ter, inclusive, Transtornos de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) pelo uso excessivo dos eletrônicos.
‘’A parte frontal do nosso cérebro, o nosso lobo frontal só termina de se desenvolver aos 20 anos. Então, quando um cérebro de 2 anos, por exemplo, começa a receber um bombardeio de estimulações com os eletrônicos, eu não permito que este cérebro se desenvolva em um ambiente enriquecedor através do contato com outras pessoas. Para nós treinarmos as nossas habilidade e para aprendermos, é necessário se relacionar constantemente com o outros indivíduos’’, explicou Karina.
Em termos comportamentais, umas das consequências apontadas é o isolamento social. ‘’A criança começa a querer ficar mais tempo usando vídeo game e não quer sair de casa e se relacionar com outras crianças e muitas vezes com os pais. A interação social acaba ficando muito falha e essas dificuldades podem permanecer ao longo da vida’’, acentuou a especialista.

Perspectivas dos educadores
Segundo Maria Bernadet Oliveira, coordenadora da Unidade Seduc na Escola 11, que coordena 23 escolas e anexos das ilhas de Icoaraci, Outeiro e entorno, nas escolas desta região é perceptível que o uso excessivo dos aparelhos eletrônicos já representa um sério problema. ‘’O celular é uma ferramenta que tira a atenção das aulas, tira essa questão da socialização com os colegas e professores. Grande parte do tempo desses criança está tomada pelo uso do telefone’’, avaliou a educadora.
Uma outra preocupação apontada por Maria Bernadet é a relação das crianças com as famílias, que reflete diretamente no ambiente escolar. ‘’O uso excessivo das tecnologias, atualmente, não é exclusividade das crianças. Os próprios pais, em muitos casos, não dão a atenção necessária para seus filhos porque estão imersos no uso do celular. E isso só contribui para atrapalhar o desenvolvimento do nosso alunado’’, pontuou.
O diretor da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Avertano Rocha, Adaelson Santos, também falou da necessidade de os pais entenderam o papel da escola enquanto um dos responsáveis e não o único na formação da criança. ‘’No universo de alunos matriculados, por exemplo, é muito pequena a parcela de pais que se preocupam com o desempenho escolar dos filhos. Quem tem a tutela dessas crianças e adolescentes são os pais e eles precisam estar conscientes da sua responsabilidade. O Estado é parceiro nessa estratégia formativa, agora a responsabilidade primeira é dos pais’’, advertiu o diretor.

Próximas ações da campanha
As principais atividades que serão realizadas no âmbito da campanha ‘’Nada Substitui a presença! Celular não é babá!’’ incluem palestras nas escolas públicas dos distritos de Icoaraci e Outeiro e a confecção de material para divulgação nas redes sociais. Atualmente, a equipe da 1ª Promotoria de Justiça Cível e de Defesa Comunitária e da Cidadania de Icoaraci está elaborando um cronograma de atividades e palestras nas escolas estaduais e municipais da região. Se houver interesse de escolas privadas, estas serão incluídas no cronograma.
A promotora Darlene Moreira explicou que durante o desenvolvimento da campanha novas ações poderão ir surgindo, conforme a necessidade. Já há um planejamento para fomentar a regulamentação sobre o uso de tecnologias pelo público infantojuvenil.
"Espera-se que os legisladores despertem para essa questão, porque os problemas envolvendo o uso excessivo de tecnologias estão vindo à tona de forma muito pontual, no entanto, muito constante. Os dispositivos digitais são tecnologias muito recentes na história da humanidade, então como os problemas ainda não vieram a tona de forma mais alarmante é que nós ainda não despertamos para uma necessidade de regulamentação’’, argumentou a promotora.
A possível regulamentação poderia versar, por exemplo, sobre a quantidade de horas diárias que a uma crianças e/ou adolescente poderia acessar celulares, tablets ou videogames. ‘’Os especialistas são uníssonos em dizer que o acesso aos dispositivos digitais só pode ocorrer a partir dos 4 anos, e regulado 1 hora por dia, porque o cérebro da criança está em desenvolvimento, e a criança precisa desenvolver atividades, como interação com outros seres humanos, a conversa, a afetividade e o exercício físico. Vamos trazer de volta o básico. Você pode dar um celular para a criança e deixá-la ’feliz’ naquele momento, mas as repercussões podem não ser tão boas’’, alertou a promotora Darlene Moreira.

A promotora de Justiça Sintia Quintanilha Bibas Maradei, coordenadora da Promotoria de Icoaraci, também se manifestou durante a abertura do evento e destacou o papel do Ministério Pùblico do Estado do Pará como indutor de políticas públicas para garantir os direitos das famílias.
Também estiverem presentes ao evento o promotor de Justiça Márcio Faria Maués, presidente da Associação do Ministério Público do Estado do Pará (AMPEP); o promotor de Justiça da Infância e Juventude de Icoaraci, José Edvaldo Sales; o promotor de Justiça Criminal, Lauro Freitas Júnior; a defensora pública de Icoarací, Franciara Lemos Rell, e representantes do Batalhão de Polícia Militar (BPM) e da Companhia de Policiamento Escolar da Polícia Militar..
Texto: Renan Monteiro, estagiário de Jornalismo
Assessoria de Comunicação Social