Saúde mental é tema de curso realizado pelo Ministério Público do Pará

Em alusão ao Setembro Amarelo, campanha nacional de prevenção ao suicídio, o Ministério Público do Pará (MPPA), por meio do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF), em parceria com o Departamento Médico Odontológico do MPPA, realizou nesta terça (24) o curso ‘’Setembro Amarelo: saúde mental e suicídio’’ para a discussão de preconceitos e realidades sobre a Saúde Mental humana.
O curso faz parte do calendário anual de atividades desenvolvidas pelo CEAF, coordenado pelo Promotor de Justiça Rodier Barata Ataíde. A cada mês é apresentada uma temática relacionada à qualidade de vida humana, especialmente membros e servidores da instituição, sendo a Saúde Mental a temática da atividade do mês de setembro.
Para palestrar sobre o assunto e mediar as discussões, foi convidada a psicanalista Cristina Ferreira, especialista em psicologia clínica e autora do livro ‘’Da Melancolia ao Suicídio: Concepção de Freud’’. A psicanalista explica que o desejo de se matar é uma das formas (extrema) em que os seres humanos apresentam o seu sofrimento psíquico, por se sentirem totalmente desamparados. Sendo assim, a morte apresenta-se como ‘’a possibilidade de o sujeito continuar a agressão através da culpa’’.

Essa sensação de desamparo tem uma raiz. Segundo Cristina Ferreira ‘’se os pais incentivam a autonomia dos filhos e investem na sensação de segurança e valorização, isso dá lastro para que na vida adulta essas crianças possam lidar com sofrimentos, com perdas, com situações de frustrações. Ao contrário, se por exemplo, o investimento é de uma forma em que ‘tudo os outros resolvam pela criança’, ao chegar na vida adulta o primeiro sofrimento que essa pessoa passar, ela não saberá lidar, e logo há maiores chances de recorrer inconscientemente a um sofrimento psíquico avassalador’’.
Ao atender um ser humano com depressão e/ou ideações suicidas, Cristina Ferreira explica que o questionamento inicial, a partir da psicanálise, ‘’é como essa pessoa foi investida, como ela se constituiu, como ela lida com determinada situação e como está o ambiente dela ao sofrer determinado mal-estar. Existem pessoas que sofrem violência, como as mulheres, que não é a violência que faz com que ela tire a sua vida, mas ela se sentir totalmente desamparada depois da violência. A questão é o desamparo’’.
O Suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, a nível mundial, segundo constata a Organização Mundial da Saúde (OMS). Com dados de coleta referente à 2016, o relatório da OMS aponta que no Brasil ocorreram 13.467 casos. Um dos grandes preconceitos em relação a problemática é a hipótese de ‘’descendência’’ nos casos de sofrimento psíquico. A psicanalista afirma: ‘’não existe nada no sofrimento psíquico que seja hereditário ou biológico, o biológico vai ser o nosso corpo demonstrando as dores do nosso sofrimento psicológico. Adoecemos fisicamente por conflitos psicológicos, por sofrimentos’’.

Como lidar com o tema em ambiente institucional
A psicanalista Cristina Ferreira avalia como de fundamental importância instituições públicas e privadas tratarem do assunto para ‘’desmistificar tabus e colocar algumas questões que vão dar ao servidor e aos funcionários das instituições a possibilidade de escutar com mais cuidado e principalmente sem julgamento qualquer manifestação de sofrimento do outro’’. Segundo a especialista, ‘’atualmente o difícil é ouvir o sentimento do outro. Nós sempre queremos que o outro saia imediatamente de determinada situação de mal-estar porque sempre estamos muito ocupados para ajudar’’.
O curso contou com a presença de membros e servidores do MPPA, além de profissionais do setor público de fora que lidam a temática. A 1ª Promotora de Justiça de Direitos Constitucionais de Ananindeua Fábia Mussi de Oliveira Lima, avalia que tratar do assunto institucionalmente é necessário ‘’para que todos nós enquanto servidores e membros de uma instituição, e também enquanto seres humanos, possamos lidar com o outro em suas mazelas e dificuldades. Precisamos estabelecer um canal de conexão, e, ao perceber o sofrimento psíquico alheio, tentar evitar o agravamento desse sofrimento’’. .

Quem também participou do evento foi a Assistente Social Claudileni Batista Cruz que coordena o Curso Pré-Vestibular Municipal de Ananindeua. Claudileni lida diariamente com jovens que – em virtude da pressão pelo vestibular – têm maiores índices de sofrimento psíquico. ‘’Agora estou lidando com o caso de uma pessoa que não aceita ter ajuda de um(a) especialista, apesar de observarmos que ela realmente precisa. Então, é sempre importante aprimorar as estratégias para fazer com que essas pessoas aceitem ajuda e possam de fato sair desse processo depreciativo’’, disse.
Texto: Renan Monteiro, estagiário de Jornalismo
Revisão: Mônica Maia, Jornalista