MPPA exibe filme 'Manas' no antigo imóvel do Cine Guarani e promove debate sobre violência infantojuvenil
O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) realizou, na última segunda-feira, 11 de agosto, a exibição especial do filme "Manas" (2025), no auditório do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF), localizado no prédio que abrigava o antigo Cine Guarani, no bairro da Cidade Velha, em Belém. O evento gratuito reuniu autoridades, representantes da sociedade civil e o público em geral, e teve como objetivo principal fomentar o debate sobre a violência infantojuvenil, além de valorizar a memória cultural do espaço, que já foi uma das mais importantes salas de cinema de rua da capital paraense.
A atividade foi promovida pelo MPPA por meio dos Centros de Apoio Operacional (CAOs) – CAOTEC, CAODS, CAOIJ e CAOCPC – em parceria com o CEAF e a Associação do Ministério Público do Estado do Pará (AMPEP). Durante a abertura, foi exibido um minidocumentário institucional destacando a história e importância cultural do Cine Guarani, inaugurado em 1930 e desativado na década de 1980.
Estiveram presentes o procurador-geral de Justiça, Alexandre Tourinho, e a presidente da AMPEP, Ana Maria Carvalho, que participaram da abertura e ressaltaram a importância de espaços como esse para a reflexão sobre temas sociais urgentes, como a violência contra crianças e adolescentes.
A sessão contou ainda com a distribuição gratuita de pipoca, churros e refrigerante, com apoio da cooperativa Sicoob.
Após a exibição do longa-metragem "Manas", foi realizada uma mesa de debate. Participaram da discussão Leane Barros Fiúza de Mello (coordenadora do CAODS), Nadilson Gomes (coordenador do CAOCPC), Edvaldo Sales (diretor-geral do CEAF), Juliana Reis (promotora de Justiça de Salvaterra), Irmã Henriqueta (do Instituto Dom Azcona) e Julyane Moraes (representante do Grêmio Vilhena Alves).
Durante sua fala, a promotora de Justiça Leane Barros destacou como o filme revela as camadas da violência vivida por meninas na Amazônia. "O filme, ele mostra com muita clareza, mesmo que de forma sutil, essa distinção. Você vê que o peso maior, para a protagonista, é a violência dentro do celular. As pessoas sofrem todo tipo de violência: psíquica, física. É altíssimo o índice, inclusive, de mortes, no tráfico, na questão do favorecimento pra exploração sexual. Mas a gente percebe muito isso: a luta da vítima, e todo esse ciclo que se reproduz".
Ela ressaltou ainda o impacto geracional da violência e o silêncio que a mantém viva: "Por várias gerações: a mãe foi vítima, provavelmente a avó foi vítima. É esse impacto do silêncio entre as pessoas [...] Se a gente não tem na nossa família, a gente conhece na família de alguém ou meio próximo. A gente sabe de amigas que passam por isso, que passaram, ou pelo menos que passamos".
A Irmã Henriqueta também ressaltou que é fundamental "não estigmatizar a região, porque lá temos potencialidades, crianças com protagonismo, que sabem o que querem para suas vidas, e que não é só ser iludidas".
Relatando uma experiência pessoal durante a filmagem, a representante do Instituto Dom Azcona falou sobre o impacto do filme para as pessoas do local: "Quando estive com as meninas e o pai da Marcielle (Rômulo Braga), ele estava chocado e disse: 'Eu não aguento, eu não aguento'. E, ao final, ele assumiu a responsabilidade desses homens que fazem isso. Mas não é isso que devemos levar, e sim um olhar diferenciado. Nós, como sociedade, não podemos tolerar esse tipo de situação. Temos que ajudar as mulheres a sair desse contexto de medo e sofrimento".
O diretor-geral do CEAF, Edvaldo Sales, destacou a importância histórica do espaço, antigo Cinema Guarani. "Estamos aqui para celebrar a alegria de podermos usar este espaço, fazendo um resgate histórico não só do Cine Guarani, mas também da violência que ocorre há décadas, não só no Marajó, mas em todo o país. Usar a arte, cênica e em geral, para comunicar essa violência é fundamental para provocar reflexão e fomentar o debate, além de inspirar medidas para combater esses processos históricos".
Entre o público, a estudante Juliane Caroline, da EETEPA Vilhena Alves, compartilhou sua emoção com a exibição do filme. "Me dói o coração, porque eu fiquei agoniada. Essa realidade está tão distante, mas tão próxima de mim. Como estudante, vejo como essa luta é essencial, especialmente como mulher. Por muito tempo fomos privadas do conhecimento, e hoje estar aqui lutando por isso, não só para a gente, mas para todas as meninas do Pará e do Brasil, é muito importante."
Sobre o filme
Manas é um drama nacional lançado em 2025, dirigido por Marianna Brennand em sua estreia como cineasta. Com um roteiro assinado por Brennand ao lado de Felipe Sholl, Marcelo Grabowsky, Antonia Pellegrino, Camila Agustini e Carolina Benevides, o filme traz no elenco Jamilli Correa, Dira Paes, Fátima Macedo e Rômulo Braga.
Ambientado na Ilha do Marajó, no Pará, o filme acompanha a trajetória de Marcielle, uma adolescente de 13 anos que decide romper com o ciclo de violência que marca sua família e sua comunidade. A obra aborda temas delicados como violência sexual e exploração infantil em comunidades ribeirinhas, retratando a dura realidade enfrentada por muitas meninas na região amazônica.
Com uma narrativa potente e sensível, "Manas" vem sendo apontado como uma das principais apostas do Brasil para representar o país no Oscar de 2026.
Texto: Hannah Franco/Ascom
Fotos: Alexandre Pacheco