Encontro virtual do MPPA debate covid-19 no interior do Pará

O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) realizou, na tarde desta segunda-feira (1), a live "Covid-19: um enfoque regionalizado", com transmissão ao vivo pelo canal da instituição no Youtube. No evento virtual, promotoras de Justiça e pesquisadores debateram a subnotificação de casos de covid-19, a necessidade do isolamento social e o programa do governo estadual de retomada das atividades econômicas, o “Retoma Pará”.
Participaram do evento as promotoras de Justiça Mariela Hage, representando o Centro de Apoio Operacional da Cidadania, e Andressa Ávila, titular da promotoria de Mãe do Rio; os professores da Universidade Federal do Pará (UFPA) Renato Francês e Marcelino Silva; e o presidente do Observatório Social de Belém, Ivan Costa.
A promotora Mariela Hage abordou como a desigualdade social fez com que a doença se espalhasse pelo país. Estudos da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, apontam que a doença se propaga mais lentamente em climas quentes, como o do Brasil. Mas, apesar de o país possuir temperaturas não favoráveis para o vírus, a covid-19 se alastrou rapidamente.
“Uma análise otimista apontaria que para o estado do Pará e região Norte, caracterizados pelo clima quente e alta umidade, poderíamos esperar a menor taxa de propagação do vírus e de disseminação da covid-19. Entretanto, as condições de moradia enfrentadas pela maior parte da população de baixa renda, a baixa adesão às medidas de isolamento social e a baixa testagem têm se mostrado determinantes para avaliação dos índices da pandemia”, disse a promotora.
Andressa Ávila abordou a triste realidade das cidades do interior do estado, que concentram quase 70% da população paraense, mas possuem poucos leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Para ilustrar, a promotora citou o caso dos moradores da microrregião dos Caetés, que possui cerca de 800 mil pessoas. Para essa população, o centro de atendimento mais próximo é o Hospital Regional Público do Leste (HRPL), em Paragominas, que tem apenas 20 leitos de UTI.
Doutor em Matemática e Ciências da Computação, o professor Renato Francês falou sobre a importância das pesquisas científicas para o combate à pandemia. Ele apresentou estudos de diversas unidades do país, inclusive da Universidade Federal Pelotas (UFPEL), primeira a realizar estudos em campo sobre a real quantidade de infectados no Brasil. Dados da UFPEL apontam que Belém possui 52 vezes mais infectados que o número de casos confirmados pela Secretaria Municipal de Saúde Pública (Sesma).
“Tentamos colocar em parâmetros razoavelmente próximos da realidade os números (de infectados) que nós entendiámos que não eram realistas. E por conta deles não serem realistas, eles distorcem qualquer interpretação que o gestor tente tomar a partir deles”, argumentou Francês.
O professor Renato Francês afirmou ainda que os governantes precisam levar em conta as projeções científicas, a subnotificação, desigualdade social e os fatores demográficos de sua população para que “tenham noção do tamanho do desafio que está se apresentando e que ele tomem atitudes em relação a essas evidências científicas”.
A desigualdade social também foi debatida pelo professor Marcelino Silva. Ele destacou que 14% da população da região metropolitana de Belém não têm água encanada ou mora em casas com mais de três pessoas por dormitório, fatores que dificultam ações simples que evitam a doença, como a higienização de mãos, compras e distanciamento social. Marcelino falou também da importância da testagem em massa para ter a visão real sobre o número de infectados pelo novo coronavírus.
“O Brasil é um dos países com quantidade mais baixa de testes feitos por número de habitantes. Os Estados Unidos começaram a controlar (a doença) quando fez a testagem em massa. Os números (de infectados) disparam, exatamente porque começa a ter uma real noção do que está acontecendo. Por enquanto, a testagem em massa é uma das melhores formas de tentar controlar o que está acontecendo. E o Brasil está bem aquém do que poderia”, comentou o professor.
Presidente do Observatório de Belém, Ivan Costa ressaltou a importância da união entre o MPPA, as universidade e o Governo. “Os gestores são os grandes atores e protagonistas desse processo. A academia têm um papel fundamental, pois é ela que vai trazer evidências para subsidiar o gestor. E os órgãos controle estão em pleno exercício do trabalho. O MPPA tem trabalhado ativamente para trazer informação, para que a gente não perca vidas por falta de conhecimento”, disse.
Diversos espectadores interagiram com os participantes, perguntando sobre o pico de contaminação e a volta das atividades econômicas. Ao fim, a promotora de Justiça Mariela Hage reiterou o esforço constante do MPPA, que está funcionando normalmente, através do trabalho remoto e por meio de canais de atendimento.
Texto: Sarah Barbosa
Assessoria de Comunicação Social