Clássico RexPa recebe campanha 'Cartão Vermelho para o Racismo', lançada pelo MPPA

O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) lançou, no último sábado (21), a campanha “Cartão Vermelho para o Racismo”, durante o clássico entre Clube do Remo e Paysandu Sport Club, realizado no Estádio Olímpico do Pará Jornalista Edgar Proença (Mangueirão), pela Série B do Campeonato Brasileiro. A iniciativa pretende promover o combate ao racismo no ambiente esportivo e reforçar o compromisso com a promoção da igualdade racial, o respeito à diversidade e a inclusão.
A ação foi conduzida pelo procurador-geral de Justiça Alexandre Tourinho e pelo promotor de Justiça Eduardo Falesi, e integra a campanha nacional promovida pela Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF), em parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). No Pará, a mobilização contou com o apoio da Federação Paraense de Futebol (FPF), Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (SEEL) e Secretaria de Estado de Justiça (Seju).
Com o lema "Não é só falta grave, é cartão vermelho para o racismo", a campanha busca sensibilizar torcedores, atletas e dirigentes sobre a gravidade dos atos discriminatórios, transformando os estádios em ambientes seguros e acolhedores para todas as pessoas. Durante a partida, foram distribuídos cartões vermelhos simbólicos aos torcedores, como gesto coletivo de repúdio à discriminação racial.
Jogadores dos dois clubes posaram com faixas alusivas à campanha e a mensagem também foi veiculada por meio de sinalização ao redor do gramado.
"Somos uma instituição que defende a democracia e, como tal, somos também antirracistas. Não toleramos o racismo em nenhuma hipótese", declarou o procurador-geral Alexandre Tourinho.
"Convidamos todas as torcidas de Remo e Paysandu a se unirem nesta causa. Não é mais falta, é cartão vermelho para o racismo", completou.
Segundo o promotor Eduardo Falesi, a escolha do Re-Pa para a campanha teve como objetivo dar visibilidade à pauta em um dos maiores eventos esportivos da região Norte.
"Decidimos trazer a campanha para o maior clássico da Amazônia, diante da necessidade urgente de conscientização sobre o racismo no esporte. Esta é uma oportunidade de envolver jogadores, árbitros, torcedores e instituições em uma ação educativa e transformadora", destacou.
Ele também ressaltou a importância da união entre instituições para o sucesso da iniciativa. "Eventos como este são possíveis graças à construção de parcerias sólidas e comprometidas. O apoio da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer, a Secretaria de Justiça, a Confederação Brasileira de Futebol e a Federação Paraense de Futebol foi fundamental", disse.
Falesi também destacou a importância das torcidas para o sucesso da ação: "Faço um registro especial dos parceiros institucionais e das torcidas, que abraçaram a causa. Ambas contribuíram para a distribuição simbólica dos cartões vermelhos", completou. O jogo contou com um público presente de mais de 45 mil pessoas.
Homenagem
Um momento marcante da campanha ocorreu no intervalo da partida, quando o MPPA prestou uma homenagem à Josieli Meireles, vítima de um episódio de racismo registrado durante a final do Campeonato Paraense, realizada no dia 11 de maio. Josieli, que atuava em um dos bares do estádio, recebeu um buquê de flores como forma de reconhecimento e solidariedade.
"Amanhã pode ser minha irmã, que hoje tem só 8 anos, ou até mesmo meus filhos passando pela mesma coisa. E eu não desejo isso para ninguém", afirmou Josieli, que se emocionou ao entrar no campo pela primeira vez.
"A gente sabe que não tem nada de errado com a gente, que não temos defeitos... Mas a gente se questiona por um momento. E esse momento é muito ruim", concluiu.
Dados reforçam a urgência do tema
De acordo com levantamento do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, os casos de racismo nos estádios brasileiros aumentaram 444% entre 2014 e 2023, passando de 25 para 136 registros. O estudo ainda aponta que 41% dos jogadores negros afirmam já ter sido vítimas de racismo no exercício de suas atividades profissionais. Na Copa do Mundo de 2022, foram contabilizadas quase 500 mil publicações com conteúdo racista nas redes sociais.
A campanha reforça que racismo é crime, conforme previsto na Lei nº 7.716/1989, que estabelece pena de reclusão de dois a cinco anos, além da possibilidade de proibição de frequentar eventos esportivos, artísticos ou culturais por até três anos.
Texto: Hannah Franco/Ascom
Fotos: Rodrigo Reis